A Arte é um absurdo que funciona

Enquanto expressão humana dessincronizada do real, a arte inscreve-se naturalmente num território de anormalidade, se confrontada com o padrão funcional dominante nos ofícios que nos fazem sobreviver.

Contudo, nas suas diferentes e intermutáveis materialidades, a arte consegue criar plataformas de empatia e sintonias interpessoais que transformam os objetos artísticos em poderosos afrodisíacos da mente, atraindo e encantando a inteligência e a sensibilidade humanas.

Este poder interpelativo e comunicacional da arte tem o seu próprio mistério, resistente e milenar, sendo tomado como categoria metafísica por uns e como convenção ou construído social por outros, mas o que sobreleva a discussão e a dúvida é o facto de tal poder orientar os sentimentos e as acções de milhões de seres humanos desde o mais remoto passado da nossa espécie.

Para os indivíduos tocados pela arte, nas suas diferentes disciplinas, temas e materialidades, há uma experiência de intensidade reflexiva e emocional que permite extrair outros sentidos das trivialidades do Mundo e da vida.

A convivência com a arte, seja no confronto com os seus objetos seja no estudo das suas lógicas e processos de expressão e construção, espoleta em cada um sinais de espanto interpretativo e de compreensão aprofundada das particularidades da existência que são uma parte da resposta às questões antropológicas fundamentais: quem sou eu e que sentido tenho sendo-o.

Há, portanto, uma leve esperança que a arte possa ser refrigério ocasional ou regular para todos aqueles que não conseguem reduzir as suas vidas a uma praxis estrita e estreita ou tenham constatado que os seus dias e a suas noites se não resumem a um destino de homo faber.

Scroll to Top