Movimento sim, mas controlado

A estabilidade, por si só, não é sinónimo de progresso. Se tudo se mantiver inalterado, permaneceremos numa estagnação que, na sua forma mais extrema, equivale à imobilidade.

O movimento, seja ele físico, social, económico ou político, decorre sempre de um desequilíbrio inicial, de uma perturbação que quebra a inércia do que está estabelecido. Mas nem todo o movimento é benéfico; ele pode tanto levar-nos à evolução quanto ao caos.

Na física, Isaac Newton formulou as leis do movimento, estabelecendo que um corpo permanecerá em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a menos que seja influenciado por uma força externa. Esta ideia de que é necessário um fator de desequilíbrio para alterar o estado de um corpo aplica-se a muitas esferas da nossa existência.

Aristóteles, por outro lado, via o movimento de forma distinta, associando-o a uma finalidade (“telos”). Para ele, tudo no universo se movia em direção ao seu objetivo natural. Assim, a pedra caía porque procurava o seu lugar natural na terra, e os astros moviam-se porque tinham um propósito intrínseco.

Hoje, sabemos que essa abordagem teleológica não corresponde à realidade física, mas a ideia de que o movimento pode estar vinculado a uma direção com significado continua a ser relevante em termos filosóficos e sociais.

O movimento nas artes

O movimento também tem um papel essencial nas artes. Na dança, é a expressão primordial; o bailarino cria significado através do desequilíbrio controlado, projetando-se no espaço de forma deliberada. Como diria Martha Graham, “O movimento nunca mente. É um barómetro que revela o estado da alma.”

Na pintura, apesar de ser uma arte estática, o movimento está presente na forma como os artistas representam o dinamismo das figuras. O futurismo, movimento artístico do início do século XX, explorou essa dinâmica ao tentar capturar a velocidade e a energia do mundo moderno. Obras como “Dinamismo de um cão com trela”, de Giacomo Balla, mostram o desafio de transmitir movimento numa tela fixa.

No cinema, o movimento é essencial: as imagens sequenciais criam a ilusão de um fluxo contínuo. No entanto, como observa André Bazin, “a câmara não regista apenas o movimento, mas também o tempo”. O cinema é a arte do movimento por excelência, pois permite explorar a dinâmica do mundo e o impacto das transformações no tempo.

Movimento social e político

Na história da humanidade, todos os grandes avanços ocorreram devido a momentos de desequilíbrio que geraram movimento social. As revoluções políticas e industriais, as mudanças no pensamento filosófico, a evolução dos direitos humanos — todos são resultados de perturbações na ordem estabelecida.

Karl Marx via a história como um processo dialético, onde o conflito entre opostos (tese e antítese) gerava uma síntese que impulsionava o progresso.

No entanto, nem todo o movimento social leva a um avanço positivo. Há momentos em que o desequilíbrio leva ao caos e à destruição. O século XX foi marcado por movimentos que, apesar de prometerem transformação, resultaram em regimes totalitários e guerras devastadoras.

O desafio está, portanto, em canalizar o movimento para um progresso benéfico, evitando o desequilíbrio destrutivo.

Economia é movimento

A economia também depende do movimento. A estagnação económica é um triste sinónimo de crise, enquanto um mercado dinâmico é visto como sinal de prosperidade.

Joseph Schumpeter introduziu o conceito de “destruição criativa”, valorizando as inovações que perturbam a ordem existente, destruindo modelos de negócio arcaicos e ineficientes e criando oportunidades para soluções mais eficazes.

O advento da revolução digital é um exemplo claro desta destruição criativa: empresas que dominavam setores inteiros viram-se ultrapassadas por novas tecnologias. A Blockbuster caiu perante o streaming da Netflix; os jornais tradicionais desaparecem paulatinamente incapazes de enfrentar a ascensão do jornalismo digital.

O movimento é uma constante no ecossistema terrestre e conseguir adaptar-se  é uma questão de sobrevivência para todas as espécies.

Movimento na psicologia

O conceito de movimento também se aplica à experiência psicológica. O crescimento pessoal requer mudança, que por sua vez exige desequilíbrio. Para Carl Rogers, um dos pais da psicologia humanista, “o processo de se tornar uma pessoa envolve um movimento constante em direção à plena realização do potencial”.

As pessoas que evitam qualquer tipo de mudança, buscando apenas segurança e estabilidade, frequentemente acabam por se sentir estagnadas. O medo do desconhecido pode ser paralisante, mas sem arriscar pequenos desequilíbrios, não há crescimento. Da mesma forma que um ciclista precisa de movimento para manter o equilíbrio, o ser humano precisa de desafios para evoluir.

Equilíbrio e controle são a chave

Mas se o movimento é necessário, o excesso dele pode ser perigoso. O descontrolo gera caos, e é aqui que entra a importância do equilíbrio dinâmico.

Na navegação, um barco em movimento precisa de ajustes constantes no leme para manter o rumo. No atletismo, um corredor precisa coordenar o ritmo da sua passada para não desperdiçar energia. No mundo financeiro, os bancos centrais ajustam taxas de juro para evitar crises.

O segredo não está no movimento desenfreado, mas na capacidade de o dirigir. Como bem dizia Leonardo da Vinci, “O movimento é a causa de toda a vida”, mas sem direção, pode levar-nos para becos sem saída.

Portanto, meus amigos da política, é o controlo do movimento que define se nos levará ao progresso ou à ruína. Como na fábula de Esopo sobre a lebre e a tartaruga, não é apenas a velocidade que importa, mas sim a constância e a direção.

Saber provocar o movimento certo, no momento certo, é a verdadeira arte das lideranças criativas e bem-sucedidas.

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