CARTAS PARA UMA EPANÁFORA

Amigo. Muito há que desejo
aliviar o ânimo escrevendo alguma obra
de maior divertimento que as passadas.
Já sabeis como a meu génio (bem ou mal)
apetece este exercício de pena e tinta.

Dos vários empregos que fiz
com minha escritura
inconvenientes os achei por
pouco conformes aos afetos
dos vários amores humanos.

Vendo-me agora nesta solidão
a cujo favor venho fugindo,
desejava celebrar os sucessos
de um amoroso pensamento,
que, em simples retórica,
me faça digno de avezar
a clemência da sorte, o cuidado
da amizade.

Depois dos casos do discurso,
ainda que erudição profana posta
em a beleza que o aplauso sirva,
cousa alguma me apraz tanto
que a certeza de seu ombro.

Credor me faço pois mais do propósito
que da obra, em vós confio
o raro talento que sobre à morte.

E que a triste história se relate
por si mesma, na maneira leda
que usa o sol pela manhã.

Basta-me a glória de me guardar
em vossos lábios.

Acomodo-vos o presente.

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