O tempo, essa grande mentira, que tudo muda sem alterar nada de verdadeiramente fundamental.
Os medos e as alegrias serão sempre as da primeira infância, mesmo velhos seremos uma repetição do que aprendemos a ser.
Há dias e noites, talvez haja meses por causa da lua, quiçá teremos estações do ano devido às regularidades do clima.
Mas esta ficção dos anos já custa mais a assimilar, porque está desligada da Natureza e apenas renova essa tão pouco original esperança de haver descontinuidades na vida que conhecemos.
Por respeito ao admirável público doméstico também me empresto a um espumante e a alguns votos otimistas, já que o pessimismo assinou contrato de exclusividade com os sábios da televisão.
Nesta fase de transições imaginárias gosto de regressar à base natural, ao concerto com as materialidades da existência e constato que a terra não tem idade declarada e as pedras são tão velhas ou tão jovens como as mãos que as tomam ou arremessam.
Nada na Natureza parece escutar as vozes da ira ou do espanto que propagam o fim do Mundo.
A nossa biografia é tão curta que ficaríamos sem língua se os calhaus da Serra Tinta contassem apenas uma brevíssima parte das histórias de que foram cenário.
Podemos insistir em mudar de ano, mas não alteramos a medida de todos os sonhos que é o tempo contínuo e não medível.